Notícias
Constelação familiar pode dirimir conflitos surgidos durante a quarentena; saiba mais sobre a técnica
A constelação familiar é apontada por parte dos profissionais que atuam com o Direito das Famílias como método eficaz para dirimir conflitos consolidados e persistentes entre parentes. A dinâmica, admitida por alguns como uma forma de terapia, pode ser feita individualmente ou em grupo na busca por resolver divergências, mágoas e traumas que atravessam gerações. Segundo especialistas, pode servir também a questões que surgiram recentemente, como os desafios impostos pela convivência acirrada durante a quarentena.
É o que defende a advogada Ana Carolina Carpes Madaleno, membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM. “A constelação familiar pode auxiliar em problemas relacionados à pandemia, como, por exemplo, a alta procura por divórcios após um longo período de confinamento”, destaca.
“Este período revelou inúmeras questões que geralmente já estavam latentes, mas eram disfarçadas pela rotina, pelo lazer, pelo encontro com outras pessoas. Casais perceberam descompassos em suas formas de agir, talvez sobrecargas de uns ou questões percebidas sem qualquer explicação”, acrescenta Ana Carolina.
Segundo a advogada, a constelação familiar consegue por luz a padrões relacionais. “Mostra a forma como o indivíduo em questão se relaciona com o outro – ou de onde se originou esta forma de se relacionar – e dá a oportunidade de modificar os comportamentos, pois apenas é possível modificar aquilo que é conhecido, se a forma como o indivíduo age dentro da relação lhe é desconhecida ou não consciente, a mudança não é permitida.”
Sistemas relacionais e de confluência
Ao menos 11 estados brasileiros já utilizam a constelação familiar em varas judiciais para solução de controvérsias, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça – CNJ. A técnica foi criada pelo psicólogo, teólogo, filósofo e pesquisador alemão Bert Hellinger (1925-2019), que levou em considerou uma interlocução entre várias áreas na formulação. “Traz uma visão do indivíduo inserido em sistemas relacionais e sofrendo constantes influências e continuamente influenciando os demais”, define Ana Carolina.
“Pode facilitar acordos e dirimir conflitos justamente por ter este maior alcance, por levar em conta os padrões relacionais que podem influenciar determinada contenda, e não apenas as questões individuais. De forma mais rápida que uma tradicional terapia familiar, por exemplo, podem ser visualizadas as estruturas e padrões de relações em um conflito, permitindo àquele que vê seu relacionamento de forma mais ampliada perceber que também possui sua parcela de responsabilidade”, opina a advogada.
Para a especialista, a técnica tem grande valor para o Direito das Famílias. “Penso as constelações familiares como uma porta de entrada para a consolidação desta visão mais amplificada das relações humanas no Judiciário e da importância e influência que os vínculos e padrões familiares exercem sobre o indivíduo.”
Ela acrescenta: “O que muitos chamam de ‘filosofia das constelações’, a meu ver, é apenas o retorno às bases que a originaram, como teoria geral dos sistemas, teoria da comunicação ou cibernética, que por sua vez deram origem à terapia familiar em seus mais diversos modos”.
Conflitos pessoais no âmbito familiar
A advogada defende a efetividade do procedimento no entendimento de cada indivíduo. “Encontramos muitos doutrinadores que já levavam esta visão sistêmica, principalmente em obras de psicólogos forenses, de que os indivíduos não podem ser vistos separadamente, mas sim em relação aos outros, ao contexto jurídico, porém, sem a comoção ou a amplificação causada pelo método das constelações familiares.”
“Muitas vezes, há o deslocamento de um conflito pessoal para o âmbito familiar, originado de um padrão repetitivo, uma parentificação, uma sobrecarga onde a pessoa se percebe vítima de determinada situação, mas não percebe que talvez sua omissão possa ter contribuído para a situação atual, entre tantos outros exemplos que podem ser visualizados em uma constelação familiar ou até mesmo em uma conversa mais ampla.”
Segundo Ana Carolina, a eficácia das constelações reside no fato de que a pessoa que se propõe a olhar sua questão ou seu ponto de dificuldade por um novo prisma passa a ter novas imagens de suas relações. “Assim, percebem-se como responsáveis por sua vida e seus comportamentos, porém não como vítima ou culpado e, consequentemente, passa a olhar o outro de uma forma diversa, possibilitando assim a criação de novos caminhos.”
Além do Direito das Famílias
Ela destaca que a constelação familiar é indicada às mais diversas situações, não apenas do Direito das Família, mas a todas as situações que envolvem questões relacionais. “O que deve ser levado em conta é sempre a postura do profissional que facilitará a técnica, que deve se ater ao sistema em que está inserido, o Judiciário, e este tem suas especificidades bem definidas”.
Há de se considerar valores de não exposição dos envolvidos, bem como a ética profissional, além da noção de que a técnica não poderá ter efeitos milagrosos. “Não é um ambiente de cura, mas pode ser um ambiente de expansão da visão ou visualização das estruturas que permeiam as relações conflituosas. Quando se trata de constelações no âmbito jurídico, o ditado popular se aplica de que ‘menos é mais’”, conclui.
Atendimento à imprensa: ascom@ibdfam.org.br