Notícias
Violência contra crianças: como elas se tornam mais vulneráveis em meio à pandemia
É de se esperar que ambientes externos, como a escola e espaços de recreação e lazer, sejam mais suscetíveis às variadas formas de violência contra a criança. Essa previsão, no entanto, não se concretiza: a maior parte das agressões ocorre, paradoxalmente, dentro de casa. “Os maiores agressores são pessoas do círculo familiar e de convivência das vítimas”, aponta Melissa Teles Barufi, advogada e presidente da Comissão da Infância e Juventude do IBDFAM.
A violência familiar, segundo a advogada, é considerada um problema de saúde pública, sendo que no Brasil, todos os dias, são notificados, em média, 233 agressões de diferentes tipos (física, psicológica, etc.) contra crianças e jovens até 19 anos. E em uma realidade pautada pelo Covid-19 e pelas regras de isolamento, as crianças acabam ficando ainda mais vulneráveis, visto que, com as escolas fechadas e as redes de atendimento com serviços reduzidos, elas ficam sem o apoio de seus professores, diretores, conselheiros tutelares, e outros agentes protetores.
Relatório revela aumento da violência contra crianças e jovens
A advogada cita relatório da ONG Word Vision, que estima que 85 milhões de crianças e adolescentes, entre 2 e 17 anos, poderão se somar às vítimas de violência física, emocional e sexual em todo o planeta. A estatística representa um aumento que pode variar de 20% a 32% da média anual das estatísticas oficiais.
Segundo Barufi, a UNICEF também já divulgou que em emergências de saúde pública ocorridas anteriormente, as taxas de abuso e exploração de crianças e adolescentes cresceram. O surto do ebola na África Ocidental, de 2014 a 2016, por exemplo, contribuiu para o aumento do trabalho infantil, negligências, abuso sexual e gravidez na adolescência, por exemplo.
Violência física não é a única forma de agressão
A violência física, agressão com empenho de força física do agressor contra a criança, pode ser a mais visível, visto que deixa marcas físicas, mas não é a única a ocorrer no ambiente doméstico. A presidente da Comissão da Infância e Juventude do IBDFAM evidencia também a violência por meio de negligência, ou seja, o descaso dos pais ou responsáveis com fatores essenciais ao desenvolvimento sadio dos filhos.
“É o descuido com a alimentação, saúde, higiene, vida escolar, vestuário e outros”, declara Barufi. A violência psicológica, exercida por meio da humilhação e da rejeição, fere moralmente a criança ou adolescente e também é igualmente grave, bem como a violência sexual. A advogada é categórica ao afirmar que uma forma de ajudar a criança é ficar atento a esses vários tipos de violência. “É importante ajudar ou pedir ajuda caso note alguma coisa acontecendo na casa ao lado”, diz.
Melissa Barufi cita canais que podem ser utilizados para fazer uma denúncia, entre eles o Disque Direitos Humanos (100), o canal de denúncias oficiais do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que recebe denúncias, 24h, de forma anônima, gratuita e de qualquer parte do Brasil. Também é possível recorrer aos números da Polícia Militar (190), Polícia Rodoviária Federal (191) e Polícia Civil (197). O Proteja Brasil é um aplicativo gratuito que também pode ser utilizado para fazer denúncias de violações de direitos humanos, localizar os órgãos de proteção nas principais capitais brasileiras.
Como sugestão para a família neste período de isolamento, a especilista indica o documento científico lançado pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) com orientações para lidar com as crianças e adolescentes. “A publicação contém uma série de recomendações práticas para as famílias que ainda não conseguiram organizar a nova rotina no dia a dia”, declara.
No dia 1º de junho comemorou-se o Dia Mundial da Criança e, em um cenário delicado como este de pandemia, falar dos direitos das crianças, relembrá-los e atentar para que sejam devidamente cumpridos tornam-se deveres fundamentais de toda a sociedade.
Atendimento à imprensa: ascom@ibdfam.org.br